Eu estava na academia. Um problema na coluna apareceu por eu não me exercitar, então eu precisava de um caminho diferente.
Eu simplesmente odiava exercícios físicos. Era do tipo que fugia das aulas de educação física na escola e, quando não conseguia, a bola ia para a direita e eu ia para a esquerda.
Mas, infelizmente, nosso corpo não tinha sido feito para ficar parado, ele clamava pelo movimento que eu não estava disposta a lhe dar.
Então eu tinha terminado aqui: com três séries simples de exercícios para fortalecer minha lombar + 30 minutos de esteira + 30 de bicicleta.
Me matava. Mas só de saber que eu tinha acesso à cadeira de massagem de graça depois, já fazia valer um pouco a pena.
Eu estava na bicicleta, irritada com o som alto que saía dos auto-falantes com o propósito de motivar todos em suas séries. O ponto era que eu também queria focar na minha série: o episódio novo de Lúcifer que iria me acalmar por ter ficado incríveis duas horas sem assistir (o tempo entre a saída do trabalho e a troca de roupa apressada no vestiário da academia).
O fone não funcionava direito, então, por mais que eu tentasse prestar atenção pelo menos nas legendas, o som era alto demais: não conseguia focar.
Bufei, cansada demais para continuar tentando. Jurei que assistiria no ônibus, voltando para casa.
Foi quando o vi.
Ele estava deitado com quem eu acreditava ser a namorada no local separado para os colchões destinados à abdominais e exercícios com pesinho nos pés.
Pela primeira vez, em 3 anos de namoro, senti algo me abalar. Senti que, se eu me aproximasse dele, talvez não conseguisse me manter fiel à Kenny.
Nunca gostei dessa terminação. Fiel. Como se a falta disso te fizesse o pior ser humano do mundo e como se essa fosse a melhor qualidade em alguém.
Claro que fazia sentido. Você depositar sua confiança e seu coração em uma única pessoa era um passo muito grande e eu pensava nunca nem ter conseguido alcançá-lo. Nunca confiei em ninguém.
E, pelo visto, não sabia se podia confiar nem em mim mesma.
Era melhor sair dali. Ir para a esteira ou fugir para o outro canto dos colchões. Tinha me dado por vencida quando enrolei os fones do celular e desci da bicicleta ergométrica.
Precisava sair dali. Ele era lindo, com o cabelo loiro escuro bagunçado de suor, seus olhos mais azuis que o céu e, oh, meu Deus, ele tirou a regata.
O peito esculpido, escorrendo suor.
Meu rosto esquentou (e talvez outras partes do meu corpo também).
Olhei para a menina ao seu lado. Tinha o corpo em forma também, mas enquanto eu o via malhar, com os bíceps saltando pelo o esforço, ela fazia corpo mole, deitada no colchão, olhando-o. Com certeza pensando em como ela era sortuda em ter alguém como ele ao seu lado.
E eu não a culpava. Em seu lugar, também faria o mesmo.
Peguei minhas coisas e já ia levantar quando ele me olhou.
Senti uma eletricidade correr por minha espinha e um bolo gelado descer por meu estômago. Nossos olhares se grudaram por apenas alguns segundos e eu não consegui desviar. Não sabia se ele estava sentindo o mesmo que eu, mas se ele não desviava e continuava malhando enquanto me olhava, talvez eu pudesse me agarrar à pequena possibilidade dele também estar sentindo o que eu sentia naquele momento.
Mas a namorada dele o chamou, falando algo que eu não entendi. Ele desviou o olhar de mim e virou para ela. Eu aproveitei essa deixa para sair dali o quanto antes. Eu não era a mais bonita dali e com certeza não era a mais magra.
Não tinha olhos provocantes e meu cabelo estava completamente desgrenhado pelo esforço do serviço diário somado ao esforço físico da academia. Eu percebi isso ao subir na esteira e olhar no espelho que se estendia por toda a parede.
Sabia que nunca mais iria vê-lo porque eu nunca ia na academia no mesmo horário. Além disso, entre 18h e 21h a academia estava sempre lotada, então o aparelho que eu usaria seria o que estivesse disponível na hora.
Foi um amor por um segundo.
Uma paixão avassaladora que, com a mesma rapidez que veio, foi-se, me fazendo sair do meio das nuvens e descer com os pés para o chão.
Vida que segue.
Eu tenho séries para fazer na academia e séries para assistir. Romances para ler e um namorado que me ama mais que tudo no mundo. Pacientes para recepcionar na clínica onde trabalho e fichas para preencher.
Em inglês, quando alguém vai passar o verão em outro lugar e tem um casinho bobo que só dura exatamente os dois meses de férias, eles chamam de summer fling.
Foi isso que eu tive: a fling. Acho que nem chegou a isso.
A Gym Fling.
Mt bom! Fiquei ansiosa para saber mais sobre eles.