“Memórias de Uma Gueixa”, por Arthur Golden

Memórias de Uma Gueixa, por Arthur Golden – Disponível na Amazon

Ficha Técnica:

Título: Memórias de uma Gueixa

Título original: Memoirs of a Geisha

País: EUA

Autor: Arthur Golden

Gênero: drama/romance

Ano de publicação: 1997

Editora: Arqueiro

Páginas: 446

Rating: ⭐⭐⭐⭐⭐++++ (pode dar 10 estrelas?)

Antes de mais nada, é importante esclarecer um fato que muitos confundem: uma gueixa não é uma prostituta.

Sua função é entreter homens, mas não no sentido ocidental de “entretenimento”. É insinuar que elas são algo que eles nunca poderão ter. É distraí-los com conversas, danças, cantos, músicas e, claro, com a cerimônia do chá (que, acreditem, vai muito além de ferver ervas e colocar na xícara).

Claro que existiam as gueixas que se tornavam amantes de alguns homens, que eram chamados por elas de danna (que pode ser algo como marido em japonês). Mas uma gueixa jamais tinha mais de dois dannas durante toda a sua vida.

Se um homem se apaixonasse por ela e eles resolvessem se casar, ela deixava de ser uma gueixa e, ou voltava-se para a vida do lar ou se tornavam donas de suas próprias casas de chá ou okiyas.

Se uma gueixa deitava-se com um homem por dinheiro, era completamente por sua conta e risco, mas poucas faziam isso porque sabiam que estariam manchando por completo sua reputação e perderiam o respeito que as pessoas tinham por elas.

Esclarecido esse ponto muito importante, vamos então ao livro:

Se existe uma forma de descrever o final desse livro é: ressaca literária total. Ele mexeu comigo de forma intensa e me prendeu do começo ao fim.

A história é a biografia de Nitta Sayuri, a maior gueixa de Gion. Nela, ela conta como ela e sua irmã foram vendidas por seu pai para uma okiya, lugar que comprava meninas pequenas e a tratavam como escravas para depois treiná-las para se tornarem gueixas.

A história começa quando Chiyo tinha mais ou menos 6 anos. Chiyo era diferente das outras meninas da sua idade por ter os olhos “cinzas translúcidos”. Vivia feliz em sua “casa bêbada” com seus pais e sua irmã mais velha, Satsu.

Porém, um dia, sua mãe cai doente e seu pai, com medo de perder a família novamente (pois ja perdera a mulher e um filho antes), vende Chiyo e Satsu como escravas (o que, honestamente, não faz sentido).

A partir daí, Chiyo já é logo separada da irmã e trabalha como escrava para as três mulheres donas da okiya Nitta, que se autointitulam “Mamãe”, “Vovó” e “Titia”. A gueixa principal dessa okiya era Hatsumomo que é tão ruim quanto se pode imaginar que seria a gueixa considerada uma das mais belas com ciúme de uma menina com olhos tão incomuns e que poderia vir a apresentar uma ameaça para ela.

Diante de todos os desafios que se apresentaram, Chiyo conhece Mameha, uma gueixa mais velha que tem uma rixa com Hatsumomo e que decide adotá-la como sua “irmã mais nova”, o que significaria que ela se encarregaria de ensinar Chiyo como ser uma gueixa de verdade (e também lucraria com isso, se ela tivesse sucesso).

Um dia, com doze anos, ela cai aos prantos no meio da rua, pelo desespero que seus dias tinham se tornado em frente à um rio que corria na cidade de Gion quando um homem “de terno ocidental” lhe oferece a mão para que ela se levante e diz:

– Olhe só você… uma linda menina com nenhum motivo para ter vergonha. E mesmo assim tem medo de olhar para mim. Alguém foi cruel com você… Ou talvez a vida tenha sido cruel. […] Nenhum de nós recebe neste mundo a bondade que deveria receber.

Com isso, lhe entrega um lenço para que ela seque o rosto e lhe da uma moeda para que ela compre uma raspadinha. Logo, ouvindo as conversas de outras gueixas que o acompanhavam e dos colegas, ela percebe que ele deveria ser presidente de alguma empresa.

Com essa atitude tão bondosa, ela nem imagina que ele vai ser o homem que vai lhe inspirar a aceitar seu destino como gueixa e a trabalhar incessantemente para alcançá-lo. Essa paixão que vai guiar seus caminhos como a famosa gueixa Sayuri e sua trajetória se tornará fantástica.

Poucas vezes um livro me tocou tanto no sentido de ver como que a vida pode ser difícil, de como temos que aprender a lidar com os nossos sentimentos e em como tudo que temos pode ser tirado de nós, nos obrigando a recomeçar do zero.

Minhas passagens favoritas:

Separei para mostrar a vocês cinco passagens que me pareceram importantes, massss só vou falar de quatro, porque a última entrega o final da história 😋

1 – O encontro com o presidente, já mencionado acima.

2- Um pouco antes de debutar como gueixa aprendiz, onde seria apresentada à sociedade de Gion como irmã mais nova de Mameha, sua tutora a ensina sobre o poder de um olhar. Com esse pequeno treinamento no meio da rua, Mameha desafia Sayuri a fazer com que um menino que a encarava, estupefato com sua beleza, a derrubar as bandejas que carregava. É muito engraçado e eu ria que nem uma retardada quando, somente com três olhares o menino tropeçou da calçada, derrubando tudo que trazia nas mãos.

3 – Nessa época, era costume dessa cultura leiloar a virgindade de uma gueixa aprendiz, como Sayuri. Por ser muito disputada, vários homens queriam pagar por ela, mas Mameha fez de uma forma que apenas dois homens “duelassem” por ela: Nobu, empresário que por acaso trabalhava com o presidente que ajudara Sayuri quando pequena e um médico que ela apelidara como Dr Caranguejo. Um pouco antes de o valor de 11,5 milhões de ienes serem pagos à okiya pela virgindade de Sayuri, Mameha tentara lhe explicar o que era sexo e como ele se dava e a metáfora foi maravilhosa. Basicamente, ela lhe dissera que os homens tinham “enguias” e que as mulheres tinham “cavernas”. As enguias dos homens sempre procuram cavernas para se esconder e que a maioria gostava mais daquelas que nunca haviam sido habitadas por nenhuma enguia antes. Disse-lhe também que as enguias eram muito territorialistas e que, quando encontravam uma caverna de que gostavam, elas se remexiam lá dentro até estarem confortáveis e, então, cuspiam nela para marcar seu território. Dá pra imaginar que ninguém lê uma história dessas sério, né?

4 – Depois de já ter pago suas dívidas com Mamãe e a okiya, Sayuri se transformou em uma gueixa de muito sucesso e depois de ter deixado de ser uma aprendiz, ela começou a fazer seus próprios compromissos, não precisando nem mesmo que Mameha a acompanhasse. Em um desses compromissos, ela conhece um homem chamado Yasuda, que despertou seus primeiros desejos (apesar de seu amor sempre ter sido o presidente). Ele era simpático e cortês. Gostava dela e, mesmo não tendo muito dinheiro, deu de presente para ela um quimono (que, mesmo o mais simples, era extremamente caro). Mas, exatamente por Yasuda não ter muito dinheiro, ele deu um quimono de baixa qualidade, a seda era mal feita e os bordados também, além de ser muito colorido para a estação. Como Sayuri estava encantada com o rapaz, ela guardou o quimono com carinho, mas Mamãe o pegou sem sua autorização e vendeu-o, dizendo que uma gueixa como ela não poderia usar uma coisa de tão baixa qualidade. Sayuri estava com tanta raiva que fez exatamente o que Mameha, Mamãe, Titia e até mesmo Hatsumomo disseram para não fazer: se deitar com um homem por apenas uma noite. Eu adorei essa passagem porque foi o primeiro traço de rebeldia dela que ela soube administrar as consequências e manter em segredo para que ninguém descobrisse.

Algumas citações:

“A água sempre encontra fendas onde se infiltrar, cujo destino não pode ser detido”

“Por isso sonhos podem ser tão perigosos: queimam como fogo e, às vezes, nos consomem por completo”

“Ninguém de nós recebe neste mundo a bondade que deveria receber”

“Nosso mundo não é mais permanente do que uma onda erguendo-se no oceano.”

“Quaisquer que sejam as nossas lutas e triunfos, qualquer que seja o modo como os expermentamos, em breve todos se fundem numa coisa só, como a tinta aguada de uma aquarela num papel”

Fun Fact:

A história foi adaptada para o cinema em 2005, com Zhang Ziyi como Sayuri e Ken Watanabe como o presidente.

Memórias de Uma Gueixa, filme de 2005

Ao assistir ao filme, eu pude chegar a uma conclusão: nunca vi uma história tão bem adaptada quanto essa e eu digo isso em relação à fidelidade quanto ao livro.

Claro, várias cenas foram cortadas (inclusive a do Yasuda-san que eu mencionei acima 😢), mas isso é normal, visto que se filmassem o livro todo, seria um filme de, no mínimo, umas 10 horas, então é compreensível alguns cortes.

O filme me deixou completamente presa à tela da TV, de modo que eu pulei de susto quando o telefone tocou 😂.

Comparação (as poucas diferenças que eu encontrei entre o livro e o filme)

  • A forma como Hatsumomo foi expulsa da okiya foi diferente. No livro, ela é expulsa porque ela desonra a okiya por morder um de seus clientes quando ele tentou beijá-la. No filme, ela é expulsa porque ela pôs fogo na okiya.
  • Achei Mamãe bem mais amorosa e simpática no filme do que no livro, onde ela é uma carrasca, praticamente.
  • Vovó mal aparece.
  • Chiyo é bem mais escandalosa no filme que no livro. No livro ela sempre se mantém quieta, enquanto no filme ela chega a gritar atrás da irmã (o que não acontece de jeito nenhum no livro).
  • Não apareceu a velha Sayuri contando a história de seu apartamento em Nova York e nem sobre o que aconteceu depois do anúncio do presidente.
  • Nobu, no filme, tem cabelo e tem os dois braços.
  • Depois da guerra, no livro, Sayuri tem que entreter um general alemão. No filme, ela tem que entreter um tenete americano.
  • O valor do mizuage de Sayuri foi alterado. No livro, sua virgindade foi leiloada por 11,5 milhões de ienes. No filme, foi por 15 milhões.

Gente, eu tentei procurar mais algumas divergências, mas eu não consegui porque, realmente, o filme é muito bom.

Já falei e repito: nunca vi uma adaptação tão bem feita. Sem contar que o visual do filme, você ver as gueixas maquiadas na tela, ver as paisagens lindas do Japão é muito mais emocionante (principalemente quando Sayuri dança).

E vamos colocar um detalhe aqui: Ken Watanabe é lindo, viu? Meu coraçãozinho dorameiro tava em prantos enquanto eu via o filme.

Uma lição muito importante que eu consegui extrair da dura história de Sayuri é: trabalhe duro pelo o que é importante para você e tenha paciência. Você vai conseguir alcançar o que quer, se tiver paciência.

Uma última opinião: eu achei muito estranho o fato de o presidente ter conhecido Sayuri quando ela tinha apenas 12 anos e ainda assim, ter se apaixonado por ela. Mesmo que eles só tenham ficado juntos depois que ela fez 30 anos e ainda assim, não ter se divorciado da esposa, visto que ele a amava tanto. Mas, no filme colocaram da seguinte maneira: para eles (naquela época – e talvez nos dias de hoje), os casamentos eram por conveniência e completamente arranjados. Claro que ele tinha filhos com a esposa, o dever da esposa era dar filhos ao marido, inclusive. Mas eles não poderiam se divorciar porque, provavelmente, ele (ou a empresa do pai dele) deveria ter algum tipo de ligação comercial ou de negócios com o pai (ou a empresa do pai) da esposa.

Então, é compreensível Sayuri ter dito no final que ele gostava tanto dela que era com ela que ele preferia ficar e foi ao lado dela que ele morreu. Foi por ela que ele se apaixonou, apesar de eu ainda não curtir muito esse gap enorme de idade entre eles.

Enfim, divaguei muito? kkk espero que tenham entendido o que eu quis dizer :p

Já viram esse filme/leram esse livro? Me contem nos comentários!

Sobre GabisNika | Gabriela Resende - Escritora

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